As entrevistas da ACEO 01: Leonardo Freitas do Valle, uma irrefreável paixão pelas orquídeas

Leonardo Freitas do Valle é Presidente do Núcleo Orquidófilo Castello Branco, na Grande São Paulo. Em conversa com Vera Coelho, ele inaugura uma série de entrevistas publicadas pelo Boletim ACEO desde a 3ª edição, datada de 16/06/07.

ACEO – Como surgiu seu interesse pelas orquídeas?

L.F. do Valle – Minha mãe, pintora naïf de renome internacional, me educou no amor aos animais, às plantas e suas flores, fontes inesgotáveis e permanentes de inspiração. Como tinha poucos recursos, trocava seus quadros por vasos de orquídeas em flor, numa pequena loja no centro do Rio de Janeiro, e inoculou em mim o micróbio da orquidofilia. Posteriormente, me relacionei com o saudoso Luys de Mendonça, fundador da Sociedade Brasileira de Orquidofilia (SOB), e com um colega de trabalho na Siemens, mais tarde um grande amigo, Luiz Schara, também da SOB, que fundamentaram um encaminhamento definitivo para me tornar amante das orquídeas. Foram meus preceptores, da melhor qualidade.

ACEO – O Sr. foi um dos fundadores da SOPE, hoje ASSOPE?

L.F. do Valle – Quando cheguei ao Recife, nos idos de 1982, a SOPE já estava fundada. O que fiz, juntamente com uma plêiade de orquidófilos e orquidólogos da melhor qualidade, foi sedimentar o processo de atuação da Sociedade. Através de um contrato de comodato com a Prefeitura do Recife, para cessão de uma área urbana de 800 m2, construimos a sede própria onde hoje se realizam exposições, palestras, reuniões, em área totalmente ajardinada e plena de espécies nordestinas de orquídeas. Tenho uma dívida imensa de gratidão com as figuras de Augusto Burle, Camilo e Amaro (já falecidos), Carlos, Dr. Carlos Eduardo, Kerginaldo, Sérgio, os Reinaldos, Otávio e tantos outros amigos e companheiros inesquecíveis.

ACEO – Que nomes fizeram a orquidofilia no Nordeste?

L.F. do Valle – Uma pergunta difícil de responder, tal a quantidade de verdadeiros mestres. Aí do Ceará, o Lima Verde, Tutuca, Dr. Galhardo, Pompeu. Em Pernambuco, Camilo, Carlos, Carlos Eduardo, Alceu, Augusto, Sérgio, Reinaldo, Dona Olívia. Na Paraíba, o Dr. Severino, Leonardo Felix. Em Alagoas, o Dr. Luiz de Araújo. No Rio Grande do Norte, o Dr. Roberto Guerra. Na Bahia, Hernani Urpia. Estou cometendo inúmeras injustiças, ao não me lembrar de tantos outros.

ACEO – Em todos esses anos, o que mais lhe marcou no meio orquidófilo?

L.F. do Valle – Uma irrefreável paixão despertada por essa planta de tantas formas, tamanhos e cores, aromas e fragrâncias e o fato de elas retribuírem com belíssimas floradas ao trato carinhoso, cuidadoso, por vezes meticuloso dos seus amantes, os orquidófilos, ou “orquidômanos”, como retratou o Dr. Aluízio Bezerra Coutinho, ou “orquidiotas”, ou ainda, para usar uma expressão engraçadíssima que ouvi em Fortaleza, os “orquidéguas” (cruzamento de orquidófilo com pai d’égua). Acima de tudo, fica a expressão maior de uma grande coletividade, na maioria pessoas de muita sensibilidade e de um raro sentimento de amor à natureza.

ACEO – Fale um pouco do seu Núcleo de Orquidófilos.

L.F. do Valle – Em agosto do ano passado, fundamos no eixo da Rodovia Castello Branco, zona oesta da Grande São Paulo, um Núcleo de Orquidófilos. A região, às margens dos rios Pinheiro e Tietê, outrora era rica de espécies que se extinguiram pela voracidade do desenvolvimento industrial e econômico e da irresponsável expansão imobiliária. Espécies magníficas como a Cattleya loddigesii, a Cattleya velutina, um grande número de Oncidiuns e Catasetuns, micro e espécies botânicas já são difíceis de serem encontradas nos raros remanescentes da Mata Atlântica. Hoje, os jardins dos grandes condomínios residenciais são repositórios de espécies e híbridos a embelezá-los e o número de aficcionados aumenta a cada dia, dando-nos a esperança de que o “micróbio” da orquidofilia está se perpetuando.

ACEO – Começaria tudo outra vez?

L.F. do Valle – Eu me regozijo de ter um respeitável currículo orquidófilo, modéstia à parte. Fui aluno de Luys de Mendonça, presidi a ASSOPE, fui chairman de duas exposições internacionais em São Paulo e do grupo que trouxe para o Brasil a 15ª World Orchid Conference, fui presidente da Comisión Latinoamericana de Orquidologia (CLO), participei de inúmeros congressos, simpósios, encontros, fui juiz qualificado pela CLO em exposições no Equador, Colômbia, Guatemala, organizei exposições no Rio, São Paulo, Caruaru, proferi palestras em João Pessoa, Campina Grande, Fortaleza, Rio, São Paulo. Hoje presido o Núcleo Orquidófilo Castello Branco. Pelo amor à arte, é claro que começaria tudo outra vez. Eu amo as orquídeas, os orquidófilos, os orquidólogos, a exuberante, a excepcional natureza de nosso país!

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