Entrevistas da ACEO – Nº 16: Maria do Rosário e o movimento para salvar nossas orquídeas

Ex-Presidente de uma das mais atuantes entidades orquidófilas do Brasil – a OrquidaRio – Maria do Rosário de Almeida Braga conversa com Juliana Coelho, Diretora de Eventos da Associação Cearense de Orquidófilos. No depoimento, aqui reproduzido na íntegra, ela fala de sua preocupação com a preservação das orquídeas no ambiente natural e do papel das associações no campo da educação ambiental. Também conta a história do Orquidário Quinta do Lago, hoje fechado, mas onde as plantas “estão mais lindas do que nunca”.

Associação Cearense de Orquidófilos: Quando aconteceu seu primeiro encontro com as orquídeas? Como foi seu envolvimento com esse universo?

Maria do Rosário de Almeida Braga: Foi em setembro de 1994. O Orquidário Quinta do Lago, que já existia desde 1990, estava se preparando para participar de uma exposição no Museu de Arte Moderna, no Rio. Fiquei completamente encantada com a beleza da floração de setembro.

ACEO: Na presidência da OrquidaRio, você se preocupou muito com a preservação ambiental e, em especial, das orquídeas em seu habitat. Fale-nos sobre a REGUA, esse projeto que teve como parceiro a San Diego County Orchid Society.

Maria do Rosário: Durante o II Congresso Internacional sobre Conservação de Orquídeas, na palestra inicial, o Dr. S. Pimm, ecólogo especialista em aves, perguntou à plateia se sabíamos onde estavam distribuídas as nossas orquídeas, para que pudéssemos conservá-las. Logo depois, tomei conhecimento do projeto da Reserva Ecológica de Guapiaçu (REGUA), no município de Cachoeira de Macacu, RJ. A área, contínua ao Parque Estadual Três Picos, estava sendo conservada, principalmente, por causa da rica fauna de aves e nada se conhecia sobre suas orquídeas. Em 2006, já eleita Presidente da OrquidaRio, fui, com um grupo de associados interessados em conservação, visitar a reserva. Pela caminhada que demos, decidimos que seria viável submeter um projeto ao Comitê de Conservação da San Diego County Orchid Society. O projeto foi aprovado e, com o apoio financeiro que pedimos, organizamos 12 viagens à REGUA para realizarmos o levantamento das orquídeas. Foi uma experiência interessante para a OrquidaRio. Ficamos orgulhosos em saber que o modelo está sempre inspirando projetos em outros estados.

ACEO: O projeto da Ilha Grande tem o mesmo escopo do da Reserva Ecológica de Guapiaçu?

Maria do Rosário: Sim, tem. Na REGUA, como na Ilha Grande, estamos realizando o levantamento das orquídeas da área. Só que a Ilha Grande tem uma área maior e nosso estudo, com apenas seis viagens programadas, vai ser menos abrangente. Outra diferença é que grande parte da Ilha Grande está em unidades de conservação administradas pelo Estado, enquanto na REGUA a reserva é particular. Temos que lidar com mais entraves burocráticos desta vez.

ACEO: Além da divulgação da orquidofilia e da necessidade de proteção da natureza, na sua visão, quais são as contribuições que uma associação orquidófila pode trazer à sociedade?

Maria do Rosário: Educação. Acredito que as associações devem e podem ter um papel muito importante em educar pessoas de todas as idades. Propagarmos o cultivo das orquídeas é o começo. E isso pode “puxar” vários outros assuntos correlatos, incluindo os do campo da educação ambiental.

ACEO: Por que é interessante que um orquidófilo se integre a uma associação orquidófila?

Maria do Rosário: Porque é sempre interessante fazermos parte de um grupo com interesses em comum. Crescemos mais depressa do que “batendo a cabeça” sozinhos. Várias atividades da associação irão contribuir para conhecermos sempre um pouco mais sobre as orquídeas.

ACEO: Quando despertei para a orquidofilia, lembro que o Orquidário Quinta do Lago era uma referência no mercado, pela diversidade e qualidade de suas plantas. Atualmente, ele não opera mais comercialmente. Conte-nos um pouco dessa história. Por que a decisão de fechar?

Maria do Rosário: O Orquidário Quinta do Lago iniciou suas atividades comerciais em 1990. Foi fundado por meu pai, João Carlos de Almeida Braga, que convidou para ser seu sócio, ajudando com a parte técnica, o Flávio Cardim, que havia trabalhado no Orquidário Binot por várias décadas. Não foi um negócio com planejamento inicial, que hoje sabemos que é essencial. Nessa época, eu morava com minha família no Parque Estadual da Ilha do Cardoso, em São Paulo, e era pesquisadora científica do Estado de São Paulo, trabalhando como Botânica Marinha. O orquidário foi crescendo e ficando conhecido. No início da década de 90, Petrópolis era uma região importante na orquidofilia nacional e nos beneficiamos com isso. Nos anos seguintes, o eixo principal da produção de orquídeas no Brasil transferiu-se quase completamente para São Paulo. Em setembro de 1994, resolvi aceitar o convite de meu pai para trabalhar no orquidário. E me apaixonei, sem conhecer nada de orquídeas, e trazendo um grande interesse em conservação. Esse ano de 94 coincidiu com o ano em que o orquidário parou de comprar plantas de mateiros. Em 1996, ano da exposição muncial no Rio, inauguramos o nosso laboratório, onde o meu maior objetivo sempre foi reproduzir espécies brasileiras, principalmente as da Mata Atlântica. O orquidário foi crescendo, participando de muitas exposições no País todo, exportando para vários países, tornando-se querido por muitos, pois o bom atendimento aos clientes e a qualidade das plantas vendidas eram prioridades. O Flávio Cardim, com quem aprendemos muito, aposentou-se em 2000. Eu sempre morando no Rio e com três filhos, subia e descia de Petrópolis semanalmente. Passamos a ter que ir a São Paulo, a cada duas semanas, para comprar plantas floridas para nossas duas lojas. Em dezembro de 2002, tivemos uma grande enchente, com prejuízos. Em 2003, fui morar fora, com a família, por 18 meses. Na volta, constatei que muita coisa no cultivo e comércio das orquídeas havia mudado no País todo e não estávamos conseguindo acompanhar. O orquidário não estava dando lucro – e isso é sempre importante para o sucesso de um negócio. Resolvi, então, fazer uma grande liquidação, para diminuir bem a quantidade de plantas. Isso aconteceu em julho de 2004 e, em agosto, fechamos a parte comercial do Orquidário Quinta do Lago. Durante os últimos cinco anos, nosso laboratório está “hibernando”, mas continua ativo e tivemos mais tempo para cuidar das muitas plantas que ainda cultivamos.

ACEO: Há planos para reativar a área comercial do Quinta do Lago?

Maria do Rosário: Isto só o tempo dirá. A partir de 2010, estarei focando mais no orquidário. Se valer a pena financeiramente reabri-lo para o comércio, é possível que aconteça. As plantas que continuam sob nossos cuidados estão mais lindas do que nunca.

2 comentários em “Entrevistas da ACEO – Nº 16: Maria do Rosário e o movimento para salvar nossas orquídeas”

Deixe um comentário