Para salvar a Serra de Uruburetama

Veja o vídeo produzido, na serra de Uruburetama, pela Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), em parceria com a Associação Cearense de Orquidófilos (ACEO).

Realizado pela Eclipse Filmes, o documentário realça a beleza da Cattleya labiata e traz um alerta sobre a degradação do ambiente natural naquela serra, que já perdeu amplas áreas de mata nativa. A Cattleya labiata é uma das orquidáceas que ali (ainda) florescem, mas que poderão desaparecer em curto prazo, caso prossiga a derrubada das matas.

O vídeo reúne, dentre outros, os depoimentos do presidente e do vice-presidente da ACEO – respectivamente, Italo Gurgel e Arilo Veras, e do ex-presidente Waldir Lima Leite. O geógrafo Arilo Veras é também o atual Coordenador de Controle e Proteção Ambiental da Semace.

As orquídeas e a Língua Portuguesa

No último dia 4 de abril, o jornalista Italo Gurgel, presidente da Associação Cearense de Orquidófilos (ACEO) tomou posse na presidência da Academia Cearense da Língua Portuguesa (ACLP). Em seu pronunciamento, Italo destacou a beleza de nossa língua e disse que cabia a nós zelar por ela “como se fora uma jóia, uma orquídea rara”.

Inspirado nessa imagem, o poeta Horácio Dídimo produziu uma página belíssima, que identificou como “paródia do soneto de Olavo Bilac” e onde constrói extraordinária simbiose entre a Língua Portuguesa e a orquídea. O poema foi dedicado ao novo presidente da ACLP. Segue-se esse texto:

Língua Portuguesa

          Horácio Dídimo

Última flor do Lácio, orquídea rara

És, a um tempo, esplendor e formosura,

Canto nativo, fonte de cultura,

A mais alta expressão da nossa fala.

Amo-te assim, orquídea perfumada,

No jardim das rosas neolatinas,

Com pétalas e sépalas tão finas,

Coluna de saudades concentrada.

Amo o teu viço agreste e o teu aroma,

Labelo que transmite aos quatro ventos

A voz terna e materna do idioma:

A Moçambique, São Tomé e Príncipe,

Guiné-Bissau, Angola, Cabo Verde,

Timor-Leste, Brasil e Portugal.

O POETA – Horácio Dídimo, professor do Departamento de Literatura da Universidade Federal do Ceará, é formado em Direito (UERJ) e Letras (UFC), Mestre em Literatura Brasileira (UFPB) e Doutor em Literatura Comparada (UFMG).

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Orquídeas para Vanessa Vidal

Vanessa Vidal Miss Ceará 2008
Vanessa Vidal, Miss Ceará 2008

Espedito e Vanessa Vidal, Vera e Juliana Coelho
Espedito Vidal, Miss Ceará, Vera e Juliana Coelho, respectivamente tesoureira e primeira secretária da ACEO, que fizeram a entrega das flores.

Miss Ceará 2008 e segundo lugar no Miss Brasil, Vanessa Vidal desembarcou em Fortaleza na noite de quarta-feira, 16, depois de ter brilhado no concurso de Miss Brasil. Representantes da ACEO a receberam no aeroporto com um buquê de orquídeas.

Vanessa foi a mais votada pelo público, a mais aplaudida pelo auditório do Citibank Hall, a que apresentou melhor conteúdo na entrevista às semi-finalistas. E, como se isso não bastasse, era, flagrantemente, a mais bela. Não conquistou o título, mas conquistou os brasileiros.

De volta a sua terra, Vanessa foi recebida – com flores, faixas, cartazes, beijos e abraços – por um grande número de admiradores, amigos, autoridades e jornalistas. Na pequena multidão, o mais entusiasmado de todos era, evidentemente, Espedito Vidal, o pai orgulhoso, membro do Conselho Fiscal e Deliberativo da ACEO e um dos mais atuantes membros da Associação.

Vanessa chegou deslumbrante, com um vestido branco e a faixa de Miss Ceará, sorridente, esbanjando beleza e simpatia. Deu entrevistas e, mais uma vez, demonstrou por que, apesar da deficiência auditiva, foi, durante todo o concurso, a candidata que mais fluentemente se comunicou com todos. A homenagem da ACEO, através das orquídeas (fornecidas pelos associados), representou não apenas um aplauso a sua beleza, mas também um reconhecimento a seu talento para derrubar os muros do preconceito e alargar as fronteiras da inclusão.

Florações o ano inteiro

O gráfico mostra a distribuição das florações ao longo de 12 meses.

Na reunião ordinária do último dia 15, na Casa de José de Alencar, o presidente da ACEO, jornalista Ítalo Gurgel, apresentou, a seus companheiros dados objetivos com relação ao período de floração de diversas espécies no Ceará. Ítalo mantém rigoroso registro das florações de suas plantas e ofereceu esse levantamento como subsídio para a definição da data de futuras exposições. Alertou, no entanto, para o fato de que tais registros se referem um pequeno grupo de plantas e a um período relativamente curto de observação. Disse que uma estatística como essa está sujeita a diferentes condicionantes, como as espécies cultivadas, o local onde são mantidas e os tratos culturais, razão pela qual o modelo não pode ser aplicado, automaticamente, a outros orquidários.

No caso do Ítalo, parte de suas plantas está num sítio no Euzébio, na periferia de Fortaleza, e parte na serra de Baturité. O grupo de plantas que serviu de base para o levantamento inclui Catasetum (luridum e macrocarpum), Cattleya (aclandiae, aurantiaca, bowringiana, chocoensis, granulosa, harrisoniae, intermedia, labiata – majoritária nesse conjunto – lueddemanniana, nobilior, trianae, walkeriana e warneri), Coelogyne (flaccida e pandurata), Dendrobium crumenatum, Denphal, Encyclia linearifolioides, Epidendrum (anceps, ciliare, difforme, Orange, purpurascens, rigidum e secundum), Gongora quinqueniervis, Oncidium (anthroclus, barbatum, cebolleta, flexuosum, Shary baby e Twingle Red), Phalaenopsis, Prosthechea (fragrans e vespa), Rodriguezia venusta e Trichocentrum fuscum, além de vários híbridos de Cattleya. (Ítalo Gurgel não anota as ocorrências naquelas espécies que florescem quase o ano inteiro.)No total, há registro de 503 florações, distribuídas entre os quatro últimos anos. Os meses que se revelaram mais produtivos foram os de março (75 florações – 15% do total), fevereiro (59 – 12%) e setembro (57 – 11%). Do lado oposto ficaram os meses de janeiro (20 – 4%), maio (26 – 5%) e dezembro (33 – 6%). De um modo geral, porém, percebe-se que, com aquela composição de espécies, a coleção do Ítalo apresentou flores o ano inteiro.Veja no gráfico como se distribuíram, ao longo dos meses, os registros das florações.

Preservando a memória da orquidofilia no Ceará

O Boletim ACEO , publicação mensal da Associação Cearense de Orquidófilos, se propõe ser um guardião da memória do movimento orquidófilo no Ceará. Nele se procura resgatar informações de todo tipo que, isoladamente, constituem pedaços de uma história de 30 anos, que precisa ser preservada, até mesmo como estímulo às novas gerações de orquidófilos cearenses.

Em seu primeiro número, datado de 21/04/2007, foram transcritas pequenas notas inseridas no Boletim da então chamada “Sociedade Cearense de Orquidófilos”, nos anos pioneiros desse movimento. Além de um editorial, assinado pelo Presidente da entidade, o Boletim publicava informações curtas e informes técnico-científicos de autoria dos associados.

Segue-se uma seleção daquelas pequenas notas, que, reunidas, constituem uma página da história da orquidofilia em nosso Estado:

Volume I, Setembro-Outubro de 1978

Foi sucesso absoluto o jantar comemorativo do 1º aniversário da nossa Sociedade, realizado no restaurante do Náutico Atlético Cearense. Na ocasião foram sorteados, entre os presentes, 26 exemplares de orquídeas variadas.

Volume IV, Outubro-Dezembro de 1984

A V Exposição de Orquídeas do Ceará, ocorrida de 13 a 15 deste mês de dezembro, embora modesta, foi muito bem organizada graças aos esforços da Comissão Organizadora, composta pelos companheiros Carlos Carvalho, Antero Ferreira (Tutuca), Ana Celsa, Waldir Leite e Francisco de Oliveira. A exposição foi bastante visitada e muitos nos solicitaram informações quanto ao cultivo das orquídeas. […] Participaram do evento 13 expositores, apresentando um total de 95 plantas, 62 das quais C. labiata autumnalis, dentre estas algumas albas.

Parece que a nossa sede provisória ficou sacramentada mesmo na residência do presidente Gerardo Carvalho, haja visto que até um aconchegante quiosque de carnaúba foi construído próximo a seu orquidário. Todos estão encantados com a idéia.

Volume V, Janeiro-Março de 1985

O período chuvoso excepcional deste ano, com precipitações muito acima do normal, prejudicou diversas plantas de alguns orquidófilos, sobretudo com o ataque da podridão negra.

Em março, tivemos a honrosa visita da Drª. Lou C. Menezes (engenheira florestal do IBDF de Brasília) com a qual mantivemos um prolongado e proveitoso bate-papo sobre o seu trabalho de descrição das diversas variedades de C. labiata Lindl. a ser publicado com a ajuda de uma entidade científica norte-americana. Pelo exposto, teremos em breve um bom trabalho sobre essa espécie, cujas variedades de destaque, quase todas, estão bem distantes de nós.

Volume V, Julho-Setembro de 1985

Em 26.10.85, a Sociedade Cearense de Orquidófilos elegeu e deu posse a sua nova diretoria, composta dos seguintes membros:

DIRETORES
Presidente: José Pompeu de Souza Brasil; Vice-Presidente: Antero Ferreira Bezerra; Secretário Geral: Ana Celsa Alves Albuquerque; 1º Secretário: Gerardo Carvalho; 1º Tesoureiro: Luciano Ferreira Nunes; 2º Tesoureiro: Menandro Martins Filho.

CONSELHO FISCAL
Efetivos: Francisco Luiz de Oliveira, Sérgio Viana de Souza Marinho, Terezinha Pereira de Jesus; Suplentes: Hugo de Mattos Brito, Cleando Cortez Gomes.

COMISSÕES PERMANENTES
Técnica: Luiz Wilson Lima Verde; Promoção: Waldir Lima Leite; Divulgação: Carlos Baltasar Peicher de Carvalho.

Volume VI, Janeiro-Março de 1985

Um dos temas discutidos em nossa primeira reunião do ano foi o regulamento adotado para avaliação das plantas em nossas exposições internas. Diversas sugestões foram apresentadas e um grupo de trabalho, coordenado pelo colega Lima Verde, ficou encarregado de analisar todas as idéias para uma regulamentação mais abrangente para ser oportunamente adotada.

Aspectos da orquidofilia cearense

O território cearense apresenta, de maneira simplificada, três feições fisiográficas distintas: o litoral, o sertão e as serras.

Em todas essas compartimentações topográficas ocorrem orquidáceas, contudo, na vegetação semi-árida da caatinga (sertão) a riqueza e abundância dessas espécies são baixas em comparação com as das serras úmidas locais. A incidência de espécies no complexo vegetacional do litoral (matas de tabuleiro, cerrados, matas a retaguarda das dunas e manguezais) estaria estatisticamente num meio termo entre as duas outras áreas.

Algumas serras úmidas cearenses, como Baturité, Maranguape e Uruburetama, caracterizam-se, basicamente, pelo seu posicionamento nas proximidades do entorno da orla litorânea; por receber, de imediato, os ventos carregados de umidade vindos do oceano; pelas altitudes que permitem uma dotação pluviométrica mais intensa e regular ao longo do ano; pelo conseqüente clima ameno aí estabelecido; e pela ocorrência de uma vegetação caracterizada, fisionômica e floristicamente, como encraves de Mata Atlântica isolados dentro do Bioma Caatinga.

Esses ambientes, principalmente acima dos 600m de altitude, são propícios ao desenvolvimento de uma flórula diversificada, inclusive epifítica, onde se destacam, entre vários grupos botânicos, o das Orquidáceas. Neles, acreditamos que ocorra mais de 90% da orquidoflora cearense, estimada hoje em cerca de mais ou menos uma centena de espécies, embora registros oficiais dêem conta de apenas 54 espécies pertencentes a 28 táxons genéricos, conforme expressam os trabalhos de Cogniaux (1898), Pabst & Dungs (1975, 1977) e Gomes-Ferreira (1990).

Vale salientarmos que essas serras encontram-se seriamente ameaçadas, em conseqüência da degradação secular dos seus hábitats, atualmente fragmentados e ainda submetidos continuamente à dilapidação da flora e da fauna locais. A preservação desses ambientes necessita, complementarmente, de pesquisas e cuidados preservacionistas, não somente pela sua expressiva biodiversidade, mas também pela carência de informações que ainda demanda sobre a sua riqueza e utilização racional. Nesse contexto devemos levar em conta, particularmente, a possibilidade de constatarmos a existência de espécies ainda desconhecidas de orquídeas ou de registrarmos novas ocorrências de espécies já conhecidas e, até mesmo, de espécies com conotações de endemismos para essas áreas montanhosas.

Não somente pelas orquídeas, mas por toda a biota desses ambientes, aprofundar os conhecimentos bio-ecológicos locais constitui um ato de reverência à responsabilidade do científico e do social, necessários à preservação, também, dos direitos que merecem desfrutar as futuras gerações locais e itinerantes.

Esse patrimônio, portanto, não pode e não deve pertencer a grupos individuais nem a indivíduos isolados que possam se auto-eleger signatários de determinadas parcelas de seu conteúdo biológico, como o grupo botânico das Orchidaceae. Diante desta configuração de responsabilidades cabe aos orquidólogos estudá-las e, através dos resultados conseguidos, mensurar e expressar sua riqueza e abundância, prevendo e estabelecendo estatísticas que conscientizem a sociedade da real situação ecológica de suas populações. Aos orquidófilos cabe ajudar o meio científico no que for possível e, também, compreender e descobrir que a fartura dessas espécies nos seus hábitats é coisa do passado, e o que restou, que é muito pouco, constitui um bem precioso que devemos preservar com afinco e entusiasmo. Neste sentido, não podemos mais continuar procedendo com as coletas irracionais nos raros fragmentos que restaram de nossas matas, nem tão pouco, estimulando a coleta predatória realizadas pelos mateiros para “engordar” as nossas coleções.

Como fato palpável, devemos lembrar o que a orquidofilia cearense presenciou no início dos anos 90, quando do crucial extermínio de populações inteira da nossa Cattleya labiata em muitos locais de algumas serras, como foi o caso de Maranguape e Uruburetama (sem mais comentários!). Neste período foi registrada uma grande pressão de coleta dessa espécie, tanto para cultivo na região metropolitana de Fortaleza, quanto em outros estados brasileiros. Aqui na região metropolitana, em algumas ocasiões, foi constatado o apodrecimento de dezenas de indivíduos dessa espécie, conseqüência de coletas irracionais e em grande quantidade, sem os devidos recursos de tempo hábil para mantê-las saudáveis e cuidadosamente bem cultivadas. É bom recordarmos que procedimentos semelhantes já haviam ocorrido nos anos 40 e 50, quando milhares de exemplares dessa espécie saíram do Ceará, por via portuária, para o Rio de Janeiro e São Paulo e, possivelmente, para o exterior. Nessas circunstâncias, quando o navio atrasava, muitas vezes toda a carga apodrecia em quintais de casas da nossa capital.

(Luiz Wilson Lima Verde é engenheiro agrônomo e atual Diretor Técnico-Científico da ACEO)