2023, um ano atípico na floração da Cattleya labiata

Em 2023, a floração da Cattleya labiata Lindl. apresentou um padrão atípico, de acordo com a estatística realizada, desde 2007, pelo Prof. Ítalo Gurgel, em seu “Orquidário da Ilha Manôra”, no município do Eusébio, Região Metropolitana de Fortaleza. O levantamento é dos mais criteriosos, espelhando todas as florações ocorridas, durante o ano, naquela coleção. No início de 2023, havia ali 175 touceiras de labiata, 90% das quais adultas. Ao encerrar-se o ano, esse total se reduzia a 160 plantas, uma vez que o pesquisador vem procurando diminuir, pouco a pouco, o número de exemplares.

O Prof. Ítalo alerta que os dados dizem respeito a um orquidário específico. Ele admite que se a estatística fosse feita em outras instalações – até na mesma região – os resultados provavelmente iriam divergir, uma vez que cada orquidário possui diferenças de umidade, luminosidade, ventilação e, acima de tudo, de tratos culturais, fatores que influenciam na floração. De todo modo, o caráter confiável do levantamento, que é feito há 16 anos, ininterruptamente, o transforma em uma contribuição válida para os estudos sobre a C. labiata, considerada por muitos a mais bela orquídea brasileira e a que melhor representa o Nordeste.

Uma constatação presente em todos os levantamentos é que a labiata floresce, absolutamente, todos os meses do ano – pelo menos, no “Orquidário da Ilha Manôra”. O padrão sempre repetido mostra que o ano começa com a floração em alta. O primeiro trimestre se apresenta como o mais florífero, seguindo-se três meses de queda contínua. Na metade do ano, a flor se torna mais rara (mas não deixa de aparecer). O terceiro e quarto trimestres são de contínua elevação no número de flores, observando-se, em dezembro, que um novo ciclo já está em curso.

O que tornou atípico o ano de 2023, segundo Ítalo Gurgel, foi o elevado desempenho do último trimestre, especialmente do mês de outubro, que fez essa quadra rivalizar com os meses de janeiro, fevereiro e março, que sempre se revelam como os mais floríferos. Ao comprovar que a C. labiata está presente o ano inteiro na “Ilha Manôra”, o Professor detalha as condições climáticas do local onde está orquidário: o município do Eusébio fica na zona costeira do Ceará, com pluviometria média de 1.532mm ao ano. A época chuvosa ocorre de janeiro a junho; o segundo semestre é de muito sol e calor, amenizado pela brisa do mar (a praia está a 15km). Ao longo do ano, em geral, a temperatura varia de 24°C a 32°C, sendo raramente inferior a 22°C ou superior a 32°C.

A grande maioria das labiatas do Professor está fixada em estacas da madeira “sabiá” (Mimosa caesalpiniifolia), conhecida em outras regiões como “sansão do campo”. Todas ficam penduradas em varais. O orquidário é coberto e envolvido, nos quatro lados, por tela de 70% de sombreamento. A adubação é semanal, com “Nutriorqui”, e as regas são feitas diariamente, com o esguicho de mangueira. Nos dias mais quentes, isso é feito duas vezes. Registre-se que a maioria das touceiras incluídas neste levantamento costuma florir mais de uma vez por ano, embora haja algumas que passam um ano ou mais sem lançar flores. Italo Gurgel lembra que, em 2023, seu exemplar #64 (C. labiata tipo ‘Pacoti’), originário da região serrana cearense, lançou novas hastes florais em quatro meses seguidos: janeiro (4 flores), fevereiro (5), março (4) e abril (3), brindando-o, no quadrimestre, com 16 flores. Já o exemplar #34, outra labiata tipo, enviada do Rio Grande do Sul por um amigo do colecionador, floriu seis vezes ao longo do ano, fechando dezembro com uma haste de quatro flores.

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