
O Governador Elmano de Freitas sancionou nesta segunda-feira, 12 de maio, a Lei nº 19.245, que institui a Cattleya labiata como Flor Símbolo do Ceará. De autoria da Deputada Marta Gonçalves, a mesma Lei considera a C. labiata como de destacada relevância e interesse histórico e cultural do nosso Estado. Essa era uma antiga aspiração da Associação Cearense de Orquidófilos (ACEO) que, há anos, lutava para que tal acontecesse, entendendo que a legislação se constituiria em importante instrumento na luta pela salvaguarda de uma das mais belas orquídeas brasileiras e que está severamente ameaçada de desaparecer do ambiente natural.
Espécie eminentemente nordestina, ela ocorre, segundo a engenheira florestal L. C. Menezes, nos estados do Ceará, Paraíba, Pernambuco e Alagoas, vegetando em altitudes de 500 a 1.000 metros acima do nível do mar. (Também há registros de sua presença em Sergipe.) Justifica-se, pois, o apodo que lhe foi dado de “Rainha do Nordeste”. Em nosso Estado, ela é encontrada nas serras de Maranguape, Uruburetama e Meruoca onde, no passado, havia grandes estoques da espécie. Entretanto, torna-se cada vez mais difícil avistá-la na natureza.

Coleta predatória
Durante anos, o Ceará foi um grande “fornecedor” de labiatas para todo o País. Alguns dos mais belos clones, que brilhavam nas exposições no Sul e Sudeste, saíram de nossas serras. A coleta, no entanto, foi predatória e, aliada ao desmatamento, levou a espécie a praticamente desaparecer de seus habitats naturais. Antes de se estabelecerem controles para o comércio de espécies nativas no Brasil, grandes carregamentos saíam, periodicamente, de Fortaleza, na direção do Sul e Sudeste. Boa parte do material extraído da mata apodrecia no trajeto, ou mesmo antes de embarcar, devido às práticas irresponsáveis de armazenamento e transporte das plantas.
Desde 2007, quando foi reestruturada, a ACEO faz um combate permanente ao comércio de orquídeas subtraídas da natureza, enquanto estimula seus associados a adquirirem, apenas, plantas reproduzidas em laboratório. Em suas exposições, há severo controle para que não surjam “mateiros”, nem mesmo nas proximidades, tentando comercializar orquídeas “do mato”. Agora, com o reconhecimento oficial da importância dessa orquidácea, espera-se que sua coleta e comercialização – um crime ambiental – seja severamente punida.

Importância histórica
Entre os principais argumentos apresentados para justificar a escolha da Cattleya labiata Lindl. como Flor Símbolo do Ceará, estão:
- A importância histórica da C. labiata, que inspirou o botânico inglês John Lindley a criar o gênero Cattleya, tornando a labiata sua primeira espécie. Ela foi descrita por Lindley em 1821, tendo se tornado a planta deflagradora da paixão pelas orquídeas, no Ocidente, no Século 19. Hoje, a Orquidofilia é um dos hobbies mais populares no mundo inteiro, gerando importante produção e comercialização em alguns países, sobretudo no Sudeste da Ásia.
- Quando a Deputada Marta Gonçalves apresentou o projeto de criação da Flor Símbolo, aprovado pelos seus pares e sancionado pelo Governador Elmano, em todo esse trajeto encontrou-se sensibilidade por parte dos agentes públicos, levando-se em conta, entre outros fatores, o impacto positivo que tal iniciativa teria, ao materializar, através dessa grande e perfumada orquídea, o ideal do respeito à natureza e a vontade política de proteger os ambientes naturais onde ocorrem não apenas ela, mas as 105 orquidáceas cearenses, algumas das quais ameaçadas de extinção.
- Ao mesmo tempo, alimentou-se o propósito de promover o turismo responsável, a preservação do meio ambiente, a produção de flores em bases sustentáveis e o comércio legal de orquidáceas e de outras plantas, bem como a definição de programas que incentivem a preservação das orquídeas e o repovoamento de áreas onde as espécies locais foram dizimadas pela ação predatória dos coletores e destruição das matas.
- No imaginário da maioria das pessoas, a Cattleya labiata é aquela flor que mais fielmente preenche o conceito de orquídea. Se alguém se refere às orquídeas, o que vem à mente é a imagem da C. labiata, com sua tonalidade lilás, sua composição de pétalas e sépalas bem alinhadas e seu perfume inconfundível.
- Em alguns setores, persiste a ideia de que o cultivo de orquídeas é uma atividade dispendiosa e que essas plantas são sensíveis e de difícil manutenção. É hora de se instaurar a verdade: cultivadas hoje em todo o planeta, as orquídeas atraem um público variado, que se estende por todas as faixas etárias e camadas sociais. Trata-se de uma planta rústica, muito fácil de ser cultivada. O conceito de que essa atividade está ao alcance somente das classes privilegiadas transformou-se em preconceito, a partir do momento em que as orquídeas passaram a ser reproduzidas através do processo assimbiótico, que barateou extraordinariamente os custos e permitiu uma forte expansão do mercado, tornando-as um produto ao alcance de todos.